No
livro de São Mateus 16:24 “ Então disse Jesus aos seus discípulos: Se alguém
quiser vir após mim, renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a sua cruz, e
siga-me”. Refletindo sobre uma imagem, que preferia não ter visto, não por não
aceitar a presença de quem nela estava, mas pelo efeito antagônico que provoca
uma mensagem dúbia aos olhos de quem realmente vê. Parei, então, busquei
refúgio no Sagrado Evangelho de São Mateus, acima mencionado, e encontrei
dentro de mim, o alimento que necessitava: entender o que realmente significa
“tomar para si a própria cruz”.
Em
não me contendo, busquei mais ainda: dividir para aumentar a minha compreensão;
e logo encontrei resposta em mim mesmo. Mas o que vem a ser “renuncie-se a si
mesmo”? “Renuncie-se” e igual a: agora estou sob nova direção, não sou mais eu
e minha vontade que manda aqui. "Tome sobre si a sua cruz": Estou
disposto a sofrer rejeição, vergonha, cansaço etc... tudo o que sofreria
literalmente carregando uma enorme cruz de madeira às costas, ou seja, estou
disposto a me identificar com Cristo em seus sofrimentos. "Siga-me":
Quero ir aonde Ele for e me enviar, quero fazer como Ele faria, viver, como Ele
viveria, estar nos lugares onde Ele estaria.
Por
que senti necessidade de refletir sobre tal cena? Poderia elencar inúmeras
respostas convincentes pela razão, mas preferi estabelecer uma reflexão sobre o
sagrado e o profano como bem o fez o Pe. Jesuíta Antônio Vieira no Sermão do
bom ladrão, esplendorosa obra do Barroco Brasileiro, assim como o fez também Gregório
de Matos Guerra, poeta Baiano apelidado de Boca do Inferno.
Na
minha pobre imaginação, mas numa crença inabalável naquilo que me move
realmente, a fé, acredito que quem se nega a si mesmo, toma sobre si a cruz e
segue a Jesus, é cheio de graças e iluminado porque traz em si características
como as elencadas pelo sacerdote João Amaral, abaixo dispostas:
- Está disposto a abrir mão dos confortos
desta vida; - Vive em completa dependência de Deus Pai - Caminha em obediência à
direção do Espírito Santo - Está
disposto a encarar uma senda solitária e ser abandonado - Recebe constantes
ataques dos líderes religiosos como Jesus sofreu - Sofre por amor da justiça -
Passa por privações, provações e vergonha - Dedica a sua própria vida para bem-estar
de seu próximo - Considera-se morto para si mesmo e para o mundo.
Fique a pensar e me perguntar: Por quê? Por
quê? O que me levou a não aceitar, a repulsar aquela cena que encena uma ação
não condizente com a razão, tampouco pela Fé? Fico
a levantar hipóteses que não faria diferença alguma para alguém que me conhece,
mas que para mim faz muita diferença, faz-me diferente, faz-me inquietante,
torna-me “Um Gregório de Matos Guerra”?Não queria, mas não pude evitar
comparação com o poeta “Boca do Inferno”:
Que
falta nesta cidade? ... Verdade.
Que
mais por sua desonra? ... Honra.
Falta
mais que se lhe ponha? ... Vergonha.
O
demo a viver se exponha,
Por
mais que a fama a exalta,
Numa
cidade, onde falta
Verdade,
honra, vergonha.
Quem
a pôs neste socrócio? ... Negócio.
Quem
causa tal perdição? ... Ambição.
E o
maior desta loucura? ... Usura.
Notável
desaventura
De
um povo néscio e sandeu,
Que
não sabe que o perdeu
Negócio,
ambição, usura.
Nesta
descrição da Bahia do século XVII, vi minha Pimenteiras em pleno século XXI,
depois de com tanta luta ter se conquistado a democracia, a liberdade,
liberdade de ir e vir, de comunicar, de criticar, de elogiar, e de acreditar
que se pode viver a vida no seu torrão natal que tanto cultivara a Fé. A Fé que
Pe. Sandro plantara, semeara, e que, a meu ver, entrou numa desventura ou
“aventura” onde não combina com as intencionalidades daqueles que plantam no
Sagrado, o Profano.
Francisco
César Noronha
Professor.
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